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O Barroco

  • campusaraujo
  • há 4 dias
  • 14 min de leitura

O Barroco foi um movimento artístico e cultural iniciado no final do século XVI e ativo até o século XVIII, surgido como resposta às tensões religiosas, filosóficas e políticas da época, especialmente à Contrarreforma e ao declínio dos ideais renascentistas. Teve forte presença na arquitetura, pintura, música e, sobretudo, na literatura, tanto na Europa quanto na América Latina.


A literatura barroca é marcada por contrastes, exageros, dualismos e profunda angústia existencial. Utiliza linguagem rebuscada e rica em figuras retóricas como metáforas, antíteses, hipérboles, anacolutos e símbolos elaborados. Temas religiosos e moralizantes, alinhados à doutrina católica, são frequentes.


Inserida entre o Renascimento e o Iluminismo, essa estética representa uma transição ideológica. A escrita buscava novidade, engenho, artifício e a ideia de que o inacabado pode ser mais belo. No fim do período, o Rococó surge como expressão ainda mais ornamentada ou como a decadência barroca.


O Barroco foi um movimento artístico e cultural que surgiu no final do século XVI e se desenvolveu até o século XVIII, em um contexto de intensas tensões religiosas, filosóficas e políticas. Ele emergiu como resposta à Contrarreforma e ao declínio dos ideais renascentistas, valorizando o emocional, o dramático e o contraditório. Sua influência estendeu-se por diversas áreas, como a arquitetura, pintura, música e, de forma marcante, a literatura, tanto na Europa quanto na América Latina. 

Figuras de linguagem

Metáfora - figura de linguagem que estabelece uma comparação implícita entre dois termos, sem o uso de conectivos como “como” ou “tal qual”. Ela substitui uma palavra por outra com base em uma relação de semelhança, criando significados novos e poéticos. Por exemplo, dizer “meu amor é um oceano” não quer dizer que o amor é literalmente um oceano, mas que tem profundidade, mistério ou intensidade semelhante à do mar.

Hipérbole - figura de linguagem que consiste na exageração proposital de uma ideia com o objetivo de enfatizar um sentimento, situação ou característica. É muito usada em discursos dramáticos, poéticos ou humorísticos. Por exemplo, ao dizer “estou morrendo de fome”, a pessoa não quer dizer que está literalmente morrendo, mas expressa que está com muita fome. A hipérbole amplifica a realidade para provocar impacto ou reforçar emoções.

Antítese - figura de linguagem que aproxima palavras ou ideias com sentidos opostos, criando contraste e destacando a tensão entre elas. É uma estratégia comum na poesia e na retórica para expressar dualidades da existência, como bem e mal, vida e morte, luz e trevas. Por exemplo, “o amor e o ódio andam lado a lado” é uma antítese que evidencia sentimentos contrários convivendo na mesma experiência humana.

Paradoxo ou oxímoro - figura de linguagem que reúne ideias aparentemente contraditórias em uma mesma construção, criando um efeito de surpresa ou reflexão. Ao contrário da antítese, em que os opostos se mantêm separados, o paradoxo une os contrários em uma mesma ideia. Um exemplo clássico é: “é morrendo que se vive para a vida eterna”. Ele desafia a lógica imediata, mas revela um sentido mais profundo, muitas vezes filosófico ou religioso.

Anacoluto - figura de linguagem que ocorre quando há uma quebra na estrutura da frase, deixando um termo inicial "solto", sem conexão gramatical com o restante. É comum na linguagem oral, refletindo hesitação ou mudança de pensamento. Exemplo: “O meu pai, eu nunca entendi as decisões dele.” A construção inicial (“o meu pai”) é abandonada. No estilo literário, especialmente no Barroco, o anacoluto pode expressar confusão, emoção ou complexidade, aproximando a escrita da espontaneidade da fala.

A literatura barroca caracteriza-se pela ênfase nos contrastes (como alma vs. corpo, céu vs. terra,  vs. razão), pela linguagem rebuscada e pelo uso intenso de figuras de linguagem como metáforas, hipérboles, antíteses, anacolutos, oxímoros e símbolos. Os temas centrais giram em torno da fugacidade da vida (tempus fugit), da vaidade humana (vanitas) e do memento mori, refletindo um mundo instável, angustiado e marcado pelo pessimismo. O dualismo e a ambiguidade são traços constantes, além da forte presença de elementos religiosos, muitas vezes ligados à moral católica promovida pela Igreja.


Entre o Renascimento e o Iluminismo, o Barroco representa uma transição estética e espiritual. Os autores buscavam novidade, engenhosidade e efeito emocional, valorizando a surpresa, o artifício e o teatral. No fim do período, o Rococó emerge como um estilo ainda mais ornamentado, sendo visto por alguns como o exagero ou até a decadência do próprio Barroco.


Em diferentes países, o barroco assumiu nomes e traços próprios: eufuísmo na Inglaterra, preciosismo na França, marinismo na Itália, conceptismo e culteranismo na Espanha. Entre os autores barrocos destacam-se:


Espanha: Luis de Góngora, Francisco de Quevedo, Sor Juana Inés de la Cruz e Miguel de Cervantes

Portugal: Padre Antônio Vieira, Gregório de Matos, Francisco Rodrigues Lobo

Inglaterra: John Donne, George Herbert, Andrew Marvell, Henry VaughanAlemanha: Andreas Gryphius, Angelus Silesius

Catalunha: Francesc Fontanella, Francesc Vicenç Garcia, Josep Romaguera


O Concílio de Trento (1545–1563) foi a principal resposta da Igreja Católica à Reforma Protestante, reafirmando a autoridade papal e promovendo reformas internas. A Companhia de Jesus, reconhecida em 1540, passou a dominar o ensino e a difundir os princípios do concílio. Ao mesmo tempo, a Inquisição, já ativa na Espanha desde 1480 e em Portugal desde 1536, intensificou a repressão ao pensamento dissidente, criando um clima de austeridade.


Nesse contexto, surgiu o Barroco, ligado à arte religiosa como ferramenta de propaganda católica. Proliferaram igrejas, imagens de santos e monumentos fúnebres, com o objetivo de emocionar e impressionar os fiéis. A estética barroca também foi usada por monarquias absolutas para exaltar seu poder, como exemplifica o Palácio de Versalhes.


O Barroco refletia tensões culturais da época, como os impactos do avanço da ciência (Copérnico), que desafiava dogmas e provocava conflitos entre razão e , humano e divino — temas centrais da sensibilidade barroca. 


O termo “barroco” tem origem incerta, podendo vir do português (pérola irregular) ou do italiano (raciocínio obscuro). Por muito tempo, teve sentido pejorativo, associado ao exagero e à desordem. Foi apenas com estudos como o de Heinrich Wölfflin, em Renascimento e Barroco (1888), que o estilo foi legitimado como categoria estética.


O Barroco surgiu na Itália no fim do século XVI, atingiu seu auge no XVII e teve importância duradoura no XVIII, especialmente em regiões como Alemanha e no Brasil colonial, tornando-se um dos períodos mais marcantes da arte ocidental.

Figuras de linguagem

Anáfora - figura de linguagem que consiste na repetição de uma ou mais palavras no início de versos, frases ou orações consecutivas, com a intenção de criar ritmo, ênfase ou reforçar uma ideia. Muito utilizada na poesia e na oratória, a anáfora contribui para a musicalidade do texto e a intensificação emocional. Exemplo: “Aqui tudo é incerto, aqui tudo é confuso, aqui tudo é dor.” A repetição de “aqui” reforça o sentimento de desorientação do enunciador.

Perífrase - figura de linguagem que consiste em substituir um termo por uma expressão que o caracteriza ou o descreve indiretamente. Em vez de nomear diretamente, usa-se uma descrição. Por exemplo, dizer “a cidade maravilhosa” em vez de “Rio de Janeiro”. É muito usada para dar ênfase, criar efeito poético ou evitar repetições. Na literatura barroca, a perífrase reforça a ornamentação da linguagem, tornando a mensagem mais elaborada e menos direta, exigindo maior atenção do leitor.

Elipse - figura de linguagem que consiste na omissão de uma ou mais palavras que são facilmente subentendidas pelo contexto. Ela evita repetições e dá fluidez ao texto. Por exemplo: “Na sala, apenas duas pessoas.” (omissão de “havia”). É muito usada tanto na linguagem coloquial quanto na literatura, criando efeitos de concisão ou sugerindo informalidade. No estilo barroco, pode intensificar o ritmo poético e a complexidade sintática, obrigando o leitor a reconstruir o sentido implícito.

Adjetivação - é o uso de adjetivos para caracterizar substantivos, atribuindo-lhes qualidades, estados ou características. Em estilos literários mais ornamentados, como o Barroco, a adjetivação é frequentemente intensificada, com o uso excessivo de termos descritivos que enriquecem a linguagem, mas também a tornam mais complexa. Exemplo: “a sombria e melancólica noite silenciosa”. A adjetivação serve para criar imagens vívidas, reforçar atmosferas emocionais e transmitir juízos de valor, sendo um recurso essencial para a expressividade estilística na prosa e na poesia.

Histórico do Barroco


O Barroco foi um movimento artístico e literário que floresceu principalmente no século XVII, refletindo tensões entre espírito e matéria, razão e , cientificismo e religiosidade. Na Europa, essas contradições surgiram do impacto da Reforma Protestante, da Contrarreforma Católica e dos avanços científicos herdados do Renascimento.


Na literatura, tais tensões se expressaram por meio de uma linguagem rebuscada, com uso intenso de metáforas, antíteses, inversões sintáticas, preciosismo verbal e obscuridade.

O poeta espanhol Luis de Góngora foi um dos expoentes do estilo. No Brasil, destacaram-se Gregório de Matos, com sua poesia satírica e crítica, e Padre Antônio Vieira, conhecido pelos sermões que articulavam fé e política com grande eloquência.


O termo "Barroco" pode ter conotação pejorativa, indicando exagero e excesso, mas também é usado de forma neutra para designar a literatura europeia entre 1580 e 1680, período conhecido como Era Barroca. Poetas como John Donne, na Inglaterra, com seus ritmos quebrados e jogos verbais, são frequentemente associados a essa estética.


Em Portugal, o Barroco — também chamado de Seiscentismo — começou com a Unificação Ibérica em 1580 e perdurou até meados do século XVIII, quando o Arcadismo emergiu com a fundação da Arcádia Lusitana em 1756. Foi uma fase de crises políticas, econômicas e religiosas, marcada ainda pelo Sebastianismo, crença messiânica no retorno de D. Sebastião, morto em 1578, para restaurar a glória portuguesa.


Características do Barroco


O Barroco surgiu entre o final do século XVI e o início do século XVIII, em um contexto de crise social, religiosa e existencial, marcando ruptura com o otimismo renascentista. A literatura barroca retoma temas do Renascimento, mas os apresenta sob um viés de desilusão, pessimismo e vaidade das conquistas humanas.


Caracteriza-se por dualismos como  e razão, corpo e alma, vida e morte. O autor barroco busca conciliar opostos, influenciado pela tradição escolástica. A linguagem é rebuscada, rica em metáforas, hipérboles, antíteses, paradoxos e outras figuras de estilo. Predomina a ideia de fugacidade da vida, com destaque para a morte, o trágico, o grotesco e a obscuridade, rompendo com a harmonia clássica.


Esteticamente, valoriza-se a copia (abundância verbal), a varietas (variedade) e a concordia discors (harmonia dos contrários). O cultismo explora a forma com refinamento verbal; o conceptismo privilegia o conteúdo com engenhosidade lógica e argumentativa.

Apesar da complexidade, a literatura barroca tem caráter didático e moralizante, propondo reflexão sobre a condição humana. Inspirada pelas artes visuais, evoca imagens vívidas e contrastantes, como luz e sombra, otimismo e desilusão.


O Barroco como um todo manifesta-se em obras de grande sofisticação estilística e contradições internas, com forte apelo sensorial e emocional. Elementos como dramatismo, sensualidade, movimento e tensão são usados para criar um efeito de exuberância emocional. Essas características contrastam com o racionalismo e a sobriedade do Classicismo, que priorizava o equilíbrio e a imitação dos modelos greco-romanos.


O Barroco literário é marcado por um profundo dualismo, refletindo o conflito entre corpo e alma, razão e fé, prazer e culpa. O ser humano é visto como dividido e cheio de contradições, conferindo complexidade à visão da existência. A religiosidade intensa é central, com sentimentos de culpa, medo do pecado e da morte, mas também esperança na salvação, influenciando temas e estilo.


Temas recorrentes incluem a fugacidade da vida (carpe diem, memento mori), a vaidade das conquistas humanas e a crítica ao mundo material, expressando o pessimismo barroco diante da transitoriedade e do declínio. Assim, o Barroco utiliza exuberância formal e riqueza retórica para revelar as contradições da condição humana em um mundo em crise.


Duas tendências principais na literatura barroca

Cultismo - descrição simples de objetos usando uma linguagem rebuscada, culta e extravagante, jogo de palavras (paradoxo), com uma influência visível do poeta espanhol Luís de Gôngora (aí o estilo ser chamado também de Gongorismo). Caracterizado também pelo grande uso no emprego de figuras de linguagem como metáforas, antíteses, hipérboles, anáforas etc.

Conceptismo - marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista e que utiliza uma retórica aprimorada. Os conceptistas pesquisavam a essência íntima dos objetos, buscando saber o que são, assim, a inteligência, lógica e raciocínio ocupam o lugar dos sentidos. Assim, é muito comum a presença de elementos da lógica formal como o silogismo e o sofisma.

Na literatura barroca, muitos temas foram herdados do Renascimento, como o amor, a epopeia e a mitologia. Entretanto, surgiram também temas ligados ao descontentamento social, abordando questões morais, religiosas, políticas, picarescas e satíricas.


Temas medievais clássicos na literatura barroca:


֎ Tempus fugit (a fugacidade do tempo);

֎ Ubi sunt? (o paradeiro dos mortos e o destino após a morte);

֎ Memento mori (a inevitabilidade da morte);

֎ O mundo de cabeça para baixo (ruptura da ordem lógica);

֎ Homo homini lupus (o homem como lobo do homem);

֎ Militia amoris (o amor comparado à guerra);

֎ Fortuna cambiada (a mutabilidade do destino).  


O romance picaresco atingiu seu auge, destacando-se obras como Guzmán de Alfarache, que mistura sátira social e discursos moralizantes, e El Buscón, cheio de recursos barrocos como jogos de palavras e contrastes.No teatro, houve uma transformação significativa, com o renascimento da comédia espanhola na "nova comédia", que rompeu com as regras clássicas. Lope de Vega foi um dos maiores expoentes. As mudanças incluíram a redução de cinco para três atos e o abandono das três unidades clássicas de tempo, lugar e ação. Também surgiram os currais de comédia, espaços teatrais populares para encenações.


Barroco Italiano


O Barroco italiano surgiu no final do século XVI e consolidou-se no século XVII, fortemente influenciado pela Contrarreforma, que estimulava uma arte emotiva e religiosa. Na literatura, destacou-se pela linguagem ornamentada, jogos de palavras e busca pelo maravilhamento. Seu principal representante foi Giambattista Marino (1569–1625), criador do marinismo ou secentismo, estilo marcado por metáforas ousadas, musicalidade e excessos retóricos. Sua obra L’Adone (1623) é um épico sensual que exalta o prazer e a beleza, rompendo com o heroísmo clássico.


Outros nomes relevantes incluem Tommaso Campanella, que combinou mística e filosofia, e Torquato Accetto, que abordou a dissimulação na vida social. O Barroco italiano influenciou profundamente as literaturas espanhola e francesa, mantendo forte relação com a pintura, a escultura e a arquitetura da época, formando um conjunto estético coeso e grandioso.


O Barroco em Portugal


Em Portugal, o Barroco vai de 1508 a 1756. Padre Antônio Vieira é o principal autor do barroco literário no país, no entanto, passou a maior parte de sua vida no Brasil. Sua principal obra Os Sermões constitui um mundo rico e contraditório. Revela sua inteligência voltada para as coisas sacras e, simultaneamente, para a vida social portuguesa e brasileira.


Vieira foi uma espécie de cronista da história imediata. Assim, ele elaborava os sermões usando a técnica medieval, explicitando as metáforas da linguagem bíblica. Além de Vieira, merecem destaque: o padre Manuel Bernardes, D. Francisco Manuel de Melo, Francisco Rodrigues Lobo, freira Mariana Alcoforado e Antônio José da Silva. Na pintura do Barroco português, merece destaque a pintora Josefa de Óbidos, que embora tenha nascido na Espanha, viveu e desenvolveu sua arte em Portugal. Dentre suas obras mais destacadas estão: Maria Madalena confortada pelos Anjos, Calvário, A Sagrada Família e Santa Maria Madalena. 

A Inquisição foi um tribunal criado pela Igreja Católica entre os séculos XV e XVIII para combater heresias e proteger a ortodoxia cristã. Atuou principalmente na Espanha, Portugal e suas colônias, perseguindo judeus convertidos, muçulmanos, protestantes e outros considerados desviantes. Utilizava processos rigorosos, tortura e punições severas, como prisão e execução. Embora justificada como defesa da fé, é criticada por sua intolerância e violações de direitos humanos. A Inquisição teve grande impacto cultural e social, restringindo a liberdade de pensamento, expressão e influenciando a história religiosa e política da época.

Literatura barroca espanhola


A literatura barroca espanhola floresceu no século XVII, refletindo as tensões sociais e religiosas da época. Surgiu em meio a uma crise econômica, fome, peste, desigualdade e miséria, promovendo uma visão pessimista e desencantada da vida. Os temas centrais eram a desilusão com as glórias mundanas, a crítica social e a efemeridade da existência. A escrita barroca espanhola é marcada por uma linguagem sofisticada, uso intenso de figuras de linguagem e contrastes como luz e sombra e razão e fé.


Os gêneros principais incluem sátira, teatro, poesia lírica e prosa moralizante. Entre os autores de destaque estão Francisco de Quevedo (estilo mordaz), Luis de Góngora (culteranismo), Lope de Vega (teatro barroco), Baltasar Gracián (prosa filosófica) e dramaturgos como Tirso de Molina e Juan Ruiz de Alarcón. Miguel de Cervantes também contribuiu decisivamente com Dom Quixote.


Barroco regional catalão


A literatura barroca em catalão sofreu com a crise cultural regional e a influência dos temas castelhanos, que impactaram seu vocabulário e sintaxe. Destacam-se os autores Francesc Vicent García, poeta e dramaturgo de obra irregular; Francesc Fontanella, reconhecido pela qualidade de seus poemas e peças; e Josep Romaguera, autor do importante Atheneo de grandesa.


A comédia burlesca catalã se firmou como um subgênero teatral distinto, parodiando as comédias barrocas anteriores, especialmente a “nova comédia” de Lope de Vega. Essa forma teatral exagerava e distorcia clichês, personagens e recursos cênicos, rompendo com o teatro tradicional. Ridicularizava nobres com linguagem vulgar, jogos de palavras e humor escatológico e grotesco, agradando ao público. Obras importantes incluem La gala està en son punt (1625) e La infanta Tellina i el rei Matarot.


Barroco inglês


O Barroco inglês, desenvolvido no século XVII, destacou-se na poesia metafísica, caracterizada por linguagem elaborada, raciocínio complexo e uso ousado de imagens e analogias. Poetas como John Donne, George Herbert, Andrew Marvell e Henry Vaughan exploraram temas como amor, morte, espiritualidade e o conflito entre corpo e alma, usando paradoxos e metáforas surpreendentes.


Diferente do barroco continental, mais visual e influenciado pela Contrarreforma, o barroco inglês foi mais introspectivo, racional e emocionalmente contido, refletindo a tensão entre pensamento religioso e científico. Na prosa, destaca-se John Milton com Paraíso Perdido, que une épico clássico e densidade teológica. O barroco inglês uniu rigor intelectual e poesia intensa.


Barroco francês


O Barroco francês desenvolveu-se entre o final do século XVI e meados do século XVII, em um contexto de instabilidade política e religiosa, marcado pelas guerras de religião e a transição para o absolutismo. Embora menos exuberante que os barrocos espanhol e italiano, explorou o excesso, o contraste e a teatralidade na poesia, teatro e artes visuais. Na literatura, valorizava a imaginação, a instabilidade e a ilusão.


Poetas como Théophile de Viau e Jean de Sponde expressaram angústias existenciais, a fugacidade da vida (vanitas) e o conflito entre corpo e espírito. No teatro, Pierre Corneille abordou dilemas morais e políticos com intensidade emocional e estilo elevado. O Barroco francês, com metáforas ousadas e ornamentação retórica, preparou o terreno para o Classicismo de Luís XIV.


Barroco alemão


O Barroco alemão floresceu entre os séculos XVII e início do XVIII, profundamente marcado pelos traumas da Guerra dos Trinta Anos (1618–1648), que devastou a Alemanha com miséria, fome e desilusão. Essa experiência influenciou a literatura, que expressou pessimismo, religiosidade intensa, reflexões sobre a morte (memento mori) e a efemeridade da vida (vanitas). A linguagem barroca alemã é rebuscada, com uso frequente de metáforas, paradoxos, hipérboles e estruturas complexas.


Destacam-se dois movimentos poéticos: a Primeira Escola Silésia, com Martin Opitz, que sistematizou regras na Ars Poetica; e a Segunda Escola Silésia, com autores como Andreas Gryphius e Angelus Silesius, que trataram de dor, salvação e transitoriedade. Na poesia religiosa e moralizante, o barroco alemão alcançou sua maior força, refletindo um mundo fragmentado e em busca de sentido.


Barroco hispano-americano


O Barroco hispano-americano surgiu nos séculos XVII e XVIII como adaptação do barroco europeu às realidades coloniais da América sob domínio espanhol. Refletia os contrastes entre europeu e indígena, sagrado e profano, marcando-se por retórica exuberante, imagens intensas e forte religiosidade, influenciado pela Contrarreforma. Elementos locais, como a natureza tropical e o sofrimento indígena, misturam-se a formas europeias, revelando uma arte simultaneamente de dominação e resistência. Destaque para Sor Juana Inés de la Cruz, poeta mexicana que questionou o papel da mulher, e Bernardo de Balbuena, autor de Grandeza mexicana.




 
 
 

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